quinta-feira, 19 de maio de 2011

Transposição manual garante passagem de peixes por barragem



Por Rozana Ellwanger

Todos os dias utilizamos a eletricidade automaticamente. Ao acender uma lâmpada ou ligar algum aparelho eletrônico a energia está lá, pronta para nos trazer mais conforto. Mas para que isso seja possível, são necessários muitos investimentos, como na construção de barragens e usinas hidrelétricas.

Mas na construção de uma barragem, deve-se considerar muito mais do que a quantidade de eletricidade que tal empreendimento vai gerar. O impacto ambiental destas construções precisa ser analisado e muitas medidas devem ser tomadas para que a fauna e flora não sofram as consequências do desenvolvimento. Nas barragens hidrelétricas, uma das principais preocupações é com os peixes migradores, que todos os anos empreendem uma longa jornada rios acima para se reproduzirem.

A piracema, como é chamado este processo, é etapa indispensável para a sobrevivência das espécies migratórias. Por isso, a construção de uma barragem requer ações que possibilitem a continuidade deste ciclo. Foi com o objetivo de garantir a reprodução de várias espécies de peixes que a Simbiota, sob coordenação do biólogo Fábio Silveira Vilella, doutor em ecologia e estudos envolvendo ictiofauna e barramentos hidrelétricos, realizou, de 20 de dezembro de 2010 a 8 de abril de 2011, a transposição manual de animais UHE São José, no rio Ijuí. Durante este período, nove pessoas, entre biólogos, estudantes e pescadores, estiveram envolvidos em um longo processo de captura, avaliação, tratamento e soltura dos peixes.

Utilizando redes de espera, iscas artificiais, tarrafas, linhas e cevas, a equipe capturou 1311 peixes em 70 dias de trabalho. Ao todo, foram mais de 2 mil quilos de peixes, entre dourados (Salminus brasiliensis), grumatãs (Prochilodus lineatus), piavas (Leporinus obtusidens), pintados (Pimelodus pintado), voga (Schizodon nasutus) e surubim (Pseudoplatystoma corruscans).

Ao ser capturado, cada animal foi colocado em tanques-rede para se recuperarem. A equipe então realizava uma avaliação do estado de cada animal, verificava seu tamanho e peso e coletava amostras de tecido para futuros trabalhos de genética de população. Só depois de ter certeza sobre as boas condições físicas dos animais, eles eram levados para montante do barramento, ou seja, acima da barragem. Soltos novamente no rio, puderam completar o seu ciclo de reprodução.

Além da coleta de tecido, foram implantados cinco rádio-transmissores em dourados, através de procedimento cirúrgico, atividade acompanhada por técnicos da Ijui Energia, da Eletrosul e por assessores do Ministério Público de Santo Ângelo. Também foram implantadas marcas hidrostásticas em 12 peixes.

CINCO ESPÉCIES CAPTURADAS

Das cinco espécies capturadas nos quatro meses de trabalho, o dourado (Salminus brasiliensis) foi a mais abundante, totalizando 945 animais. Segundo Fábio, isso deve-se ao caráter predador deste peixe, o que facilitou a sua captura, além da clara abundância desta espécie na região. Também foram capturados 346 grumatãs (Prochilodus lineatus), três piavas (Leporinus obtusidens), dez pintados (Pimelodus pintado), seis voga (Schizodon nasutus) e um surubim (Pseudoplatystoma corruscans).
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