O primeiro leilão de energia eólica do país, que será realizado pelo Governo Federal em 25 de novembro, é um marco em relação à potência dos ventos brasileiros. E esta importância, atualmente, é tão visível que o leilão atraiu o interesse de um número expressivo de empreendimentos de geração.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) efetuou para o certame o cadastramento de 441 projetos, que juntos somam capacidade instalada de 13.341 MW. Os parques eólicos que pretendem participar do leilão abrangem 11 estados em três regiões.
A região Nordeste obteve o maior número de empreendimentos eólicos inscritos para o leilão, alcançando 322 projetos (73% do total) e 9.549 MW de potência instalada (72% do total).
Na avaliação do presidente da EPE, o grande número de empresas interessadas em investir na geração eólica permite antever uma forte competição no leilão, o que propiciará a contratação de energia a preços bastante atrativos para o consumidor.
– O sucesso do leilão está garantido, pois o interesse dos empreendedores superou as expectativas até do mais otimista dos analistas.
Basta constatar que o total de capacidade inscrita equivale a cerca de dez usinas nucleares como a de Angra 3 – destacou Mauricio Tolmasquim.
Para Lauro Fiuza Junior, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), a quebra dos mitos que envolviam este tipo de energia foi o fator que mais contribuiu para o crescimento da procura: – Desde a década de 50, o Brasil vê o seu desenvolvimento montado em cima da geração hidrelétrica.
Ainda hoje, o país é o líder mundial em percentual de energia renovável, dentro da matriz energética como um todo, com média de 46%, enquanto a média mundial é de 14%.
Por isso, a maioria dos países faz projetos para 2020 e 2030, a fim de chegar ao patamar de 20%, alguns poucos a 30%. Então, pensava-se que o Brasil não devia se preocupar, já que nossa matriz é folgada. No entanto, todo o potencial hidroelétrico do Brasil na Costa Leste já foi explorado, e o grande potencial brasileiro daqui para frente vai para Amazônia, que necessita de tecnologia mais cara e difícil, além da impossibilidade de acumular água por mais de um ano. Assim, viu-se a necessidade de se completar essa energia com outras fontes. E a eólica é a forma de geração mais econômica para completar a energia não-gerada pelas novas barragens. Ela jamais será mais barata que a hidrelétrica, mas é três vezes mais em conta do que uma térmica de óleo pesado, quatro a mais do que com diesel e se equivale com a de carvão – explicou Fiuza.
Superioridade natural Dentro do leilão, no corte por tamanho de projeto, a maior parte dos parques eólicos cadastrados na EPE apresenta potência instalada entre 25 e 50 MW: são 262 empreendimentos, com 8.000 MW no total. Entre as centrais geradoras de grande porte, com potência acima de 100 MW, foram inscritos seis projetos, totalizando 806 MW de capacidade.
Segundo Lauro Fiuza Junior, esses números elevados se devem ao excelente potencial brasileiro para produção de ventos, que, em números, supera, e muito, o potencial europeu e americano.
– Dentro das condições ideais, o fator de capacidade, que é o percentual real em função da capacidade nominal, de um parque na Europa é de 26%. No Brasil, em regiões como a do Ceará ou do Rio Grande do Norte, a média é de 43%, tendo parques que chegam a 50%. Além disso, temos também o Rio Grande do Sul com um grande potencial, assim como o interior da Bahia. Perto deste aproveitamento de vento espetacular brasileiro está o dos Estados Unidos, que já aproveitam bastante a energia eólica – exemplificou o presidente da AbEEólica, que deu outros exemplos claros da importância de um melhor aproveitamento dos ventos no país: – Na década de 90, foi medido no Brasil um potencial do mapa eólico de 143 mil megawatts. Na nova medição, feita a 100 metros de altura, estima-se que deve passar de 300 mil megawatts. Isso significa 20 usinas de Itaipu, mesmo não podendo ser totalmente explorado. De qualquer forma, com apenas 20% disto já temos 4 ou 5 Itaipus – enalteceu.
Em vista de todo esse crescimento, Lauro Fiuza Junior espera que este leilão seja apenas o início de um grande tratado brasileiro sobre a energia eólica: – Espero que esse leilão seja um hábito anual, já que é necessário sinalizar para o mercado, e para todo o mundo, que queremos manter as fábricas e as empresas, a fim de que continue e aumente o investimento na energia eólica.
Fonte: ABEEólica