quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Por que o preço da energia no leilão de eólicas foi tão baixo?

Os agressivos lances ofertados no primeiro leilão de energia eólica brasileiro - que contratou 71 usinas e somam 1805MW de capacidade - surpreendeu a todos os agentes do setor elétrico: do governo à associação que representa este segmento, passando pelos fabricantes e consultores. Há pouco mais de um ano, quando se iniciou a formatação do pregão exclusivo para a fonte, o presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Lauro Fiúza, dizia que somente uma tarifa por volta de R$220 por MWh seria capaz de viabilizar os empreendimentos. Contudo, o que se viu na última segunda-feira (14/12), após quase oito horas de leilão, foi um preço médio de R$148 por MWh, que correspondeu a um deságio de 21,5% sobre o preço-teto (R$189) estabelecido pela Aneel. Como isso foi possível? Um mix de fatores explicam o sucesso do certame. O mais significativo dos incentivos aos investidores foi um pacote de desoneração tributária concedido pelo governo que, apesar de ter saído a conta-gotas e às vésperas do leilão, contribuiu para a redução do valor da energia transacionada. “Houve uma enorme desoneração”, resume o consultor em energia eólica Paulo Ludmer. Se nada fosse feito, até 30% do investimento seria voltado para pagar tributos.
O Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para aerogeradores, equipamentos que chegam a representar 70% do investimento em um parque eólico, por exemplo, foi zerado pelo Ministério da Fazenda. Por sua vez, o Conselho Nacional de Política Fazendária, concedeu isenção de ICMS aos equipamentos e componentes eólicos até 31 de janeiro de 2010, prazo que será prorrogado até o final do próximo ano, segundo o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann. Além disso, como os projetos eólicos serão agrupados no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), eles poderão receber os benefícios do Reidi, mecanismo que suspende por cinco anos a incidência de PIS/Cofins sobre os equipamentos do parque eólico. O diretor-presidente da Renova Energia, empresa que levou 14 usinas no leilão que somam 270MW de potência, Vasco Barcellos, acredita que o alto fator de capacidade dos parques vencedores foi outro item fundamental que permitiu os lances ousados. “Nossas usinas vencedoras estão com este fator acima de 50%. O sucesso do leilão foi uma combinação deste alto índice com o ganho de escala dos projetos”, opinou. Para o diretor-executivo da Abeeólica, Pedro Perreli, o filet mignon dos parques eólicos brasileiros foi negociado neste primeiro certame. “Tudo indica que os melhores projetos foram vendidos”, diz.Todas as plantas da Renova, que é controlada por dois investidores privados e também pelo fundo InfraBrasil, estão localizadas na Bahia, em três diferentes municípios. A potência dos empreendimentos, que terão aerogeradores da GE, não ultrapassa os 30MW, o que garante às usinas desconto nas tarifas de utilização do fio. Barcellos ainda conta que a companhia possui mais 1.100MW em projetos eólicos na carteira que estão sendo desenvolvidos. “Vamos estar atentos para os próximos leilões”. O consultor Ludmer elenca ainda mais dois pontos que ajudaram os empreendedores. Segundo ele, a possibilidade de comercialização dos créditos de carbono que poderão ser gerados e vendidos com a operação desta fonte limpa e as boas condições de financiamento apresentadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) impactaram positivamente a engenharia econômico-financeira das centrais eólicas.
Perreli lembra que a localização de cada um dos parques também foi um trunfo na mão dos investidores. De acordo com o especialista, a fundação para implantar os aerogeradores podem apresentar custos mais baixos ou mais altos de obras civis dependendo do tipo de solo. A distância em relação à rede de transmissão, o grau de dificuldade para escoar os equipamentos comprados até sítio escolhido e a natureza do vento também influenciam bastante a estratégia do interessado. Aquecimento industrialO Brasil está prestes a presenciar um boom da indústria eólica nacional. Este aquecimento na concorrência e a desvalorização do real frente ao dólar também ajudaram os investidores a barganharem máquinas de companhias que estão fora do País ou que estão chegando por aqui. Até pouco, somente a Wobben, subsidiária da alemã Enercon, produzia aerogeradores no Brasil. No ano passado, a argentina Impsa implantou uma unidade no Nordeste e começou a esquentar o mercado. Com a notícia de um leilão específico para a fonte, gigantes mundiais do setor, como a GE, Vestas, Suzlon e Siemens, começaram as tratativas com os órgão financiadores para trazerem plantas fabris para cá.
A dinamarquesa Vestas, que já produz torres eólicas no País, fechou alguns pré-contratos com usinas vencedoras do leilão, e deve em breve anunciar o início da produção de outros equipamentos em terras brasileiras. A americana GE confirmou em matéria recente publicada no Jornal da Energia que vai abrir uma indústria em Campinas (SP) e que deseja obter 30% do mercado nacional de aerogeradores. O diretor de Energia da Siemens, Newton Duarte, disse ter ficado muito surpreso com o resultado do leilão e que a companhia está conversando com os vencedores do certame para decidir se é viável ou não abrir sua unidade aqui no Brasil. “Estamos muito confiantes que isso vai ocorrer. Mas seremos taxativos somente depois das negociações, que devem seguir adiante pelos próximos meses”, explicou.

Fonte: Jornal da Energia
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